Freud Tupiniquim

 

Será que os psicanalistas conhecem a antiga frase 'Em casa de enforcado não se fala em corda'?

Por Bice

O que move ou estimula esta estranha vontade, pesquisa ou ajuda desses profissionais alimentarem essa história de falar sobre assuntos que o tempo, pacientemente, vem se encarregando de colocar uma pá de dia, dia após dia? Que espécie de arqueologia é essa? Eles enfrentam o tempo, o melhor remédio que a humanidade descobriu para problemas insolucionáveis. E querem desenterrar os dias!

Ou serão chefes de cozinha, gourmets, agricultores, que nos dizem ou nos convencem a dizer: é como desfolhar um repolho, uma cebola (?!) folha a folha e a memória vai trazendo os traumas, tristezas, bloqueios, recalques até que tudo fica  compreensivo, aceitável e você, cheio de força, entendimento e sensibilidade. Geralmente estes psicanalistas são meio cronificantes; cada folha desse repolho e/ou cebola retirada é tão lentamente valorizada, que esse chucrute de inconsciente só pode  resultar em flatulências orais.

Não precisam os demais colegas do que me acompanha me falarem o quanto estou errada, equivocada, e acerca da minha ignorância cientifica (?!) sobre o assunto. Nem os beneficiados, defensores e  cronificados falarem que é muito bom se ouvir, arrumar as ideias ouvir uma opinião de suposto saber.  Não vai adiantar muito, não posso ter certeza que estou correta, nem quero; talvez não tenha de fato perfil e essas críticas que faço são o resultado dos encontros que tive.

A única transferência que houve de fato foi do dinheiro da minha conta para a conta do meu psicanalista; a 
única perda revelada - e que percebi o mal que me fazia e me obrigou a tomar uma posição -, foi a do tempo para ir para análise. Os complexos complicados e complicações complexas identificadas não passaram de abstrações do literal “porque meu pai, porque minha mãe, porque a infância, porque o outro”... Sartre e a infância são um saco! Está lá, tudo vai ficando claro, pintado, colorido, modificado, rasgado pelo outro e você fazendo cara de paisagem! 

Ah, sim, trauma, agora mais um: a psicanálise não resolve!

Para encerrar, quero expor a excelente aplicação do termo recalque, deixar para sempre bem guardada essa estranha experiência psicanalítica, como disse anteriormente, o tempo se encarregara mais uma vez de deixar meus dias para frente livres do que não interessa do passado, tudo muito bem recalcado, obra pública de pavimentação do primeiro mundo!

A propósito, a alta deste absurdo procedimento confessional da era moderna eu mesma me dei. Finalmente, vi rapidamente que certas definições psicanalíticas e cidadãs que nos lançam caminhando para frente, tais como o suposto saber, as pulsões de vida e de morte, o direito de ir e vir, meu silêncio e o que faço com meu tempo são direitos meus.


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FREUD SEGUNDO GIL 

Por Bia 

É aquela coisa...é como eu digo...ou então, é como eu canto naquela música...e agora eu lembrei a saudosa Dona Canô: “Caetano, venha ver aquele preto que você gosta”...é isso: aquele preto que Caetano gosta, gostou, gostará, assim, sou eu. Mas eu dizia...a teoria freudiana e todas essas coisas, e Tom Zé, a própria Gal, Flora e até mesmo a fauna, enfim, Freud é como aquela canção: ‘A refavela / Revela aquela / Que desce o morro e vem transar’. Ou seja, está aí a pulsão sexual: ‘desce o morro e vem transar’. É isso, a refavela ó, como é tão bela, como é tão bela, ó.. Perceba...Nara, Pretta, enfim, são os filhos...e a gente tem que ensinar...é o que eu escrevi quando compus a canção: ‘A refavela /  Alegoria  / Elegia, alegria e dor  / Rico brinquedo / De samba-enredo / Sobre medo, segredo e amor’. Medo, segredo e amor, percebe?...Medo tem a ver com o Superego, a repressão; segredo..sei lá...é segredo...o segredo fica lá, né? O sujeito guardo o segredo para proteger, né?, proteger, proteger...O quê? Proteger o Ego. Já o amor, ah, o amor é puro Id...Id, Id total...Id a mim, a você, a todo mundo. É isso, é a Bahia, é alegria, é Pretta Gil amamentando Freud, né?

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COMO ENCONTRAR O ANALISTA IDEAL

Sabe quem são os maiores consumidores de divã do mundo? Não são os analistas. Raramente eles trocam esse móvel. Procure um analista limpinho.

Lembre que analista também é gente e, portanto, pode ter delírio paranóide e bina. Ligue sempre de um orelhão...
 
Ouça sempre seus(as) amigos(as) analisando(as). Eles dirão a mesma coisa: fazer análise é caro pra caralho (ops!, desculpe... É assim que esse pessoal analisado fala. Um horror!...)

Ao entrar no consultório pela primeira vez, observe atentamente os móveis e objetos do local. Se a entrevista for ruim, você terá, ao menos, boas idéias para decorar seu escritório.O analista sempre faz cara de nada. Portanto, mesmo que você não esteja sentindo nada, faça cara de alguma coisa. Ele está há muito mais tempo nisso...
Leia todos os seminários de Lacan. Você não vai entender nada. Mas facilitará sua vida quando seu analista quiser buscar a origem sexual de uma neurose que você não tem.

Não é possível identificar quem é um analista apenas pela aparência de uma pessoa. Lembra? Cara de nada. Portanto, cuidado ao procurar analista pela lista telefônica. Ele pode ser seu vizinho.
Se todas as tentativas de encontrar um analista forem malfadadas, leia Mafalda. Seu dia vai ficar ótimo!

Se, ainda assim, você quiser fazer análise, proponha ao profissional com quem sua entrevista durou mais o seguinte: as sessões serão feitas em sua casa, regadas a um bom uísque e petiscos. Se ele(a) topar, maravilha! Você evoluirá muito na arte de fazer amigos...




COMO ENCONTRAR O ANALISTA IDEAL - A RESPOSTA

Tenho certeza absoluta, é VOCÊ quem vai me ajudar a encontrar o meu/minha/nosso(a)/vosso(a) analista, nem que EU tenha que percorrer todos os consultórios/empresas/ pub/ quarto residencial (o meu é óbvio), para lhe munir de informações.

O que VOCÊ, com sua mente criativa, irá certamente escrever um livro, antes que eu consiga lhe dizer qual a entrevista que durou mais tempo, ou melhor, antes mesmo que eu entenda o que é entrevista/ tempo/ mais / antes.

A propósito, caso você queira de FATO e de DIREITO escrever tal livro, por favor, insisto, eu e o resto da parte sã da humanidade, "se descole do ego". E coloque o tópico 11 (ônzimo): "Tente convencer aquela sua boa amiga, a aceitar que vocês compartilhem a mesma analista, afinal, mesmo com cabelo ela não é escova de dentes;  ainda que mulher total, ela não é o Toda Mafalda, livro que não deve sair da cabeceira. Ela, apesar de estar sempre em nuvens, não é cigarro babado, nem wisky falsificado, muito menos iogurte vencido. Então, vamos dividir analista, mostre a sua amigona que dividir analista pode ser melhor que dividir namorada(o)(e)(u)(i).

São lindas as vogais, mas um tanto primitivas! Prefiro as consoantes, olhe que charme x y. 

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FREUD TUPINIQUIM: QUEM É ELE




Aquele analista caboclo de testa larga, com cachimbo na boca (hum-hum!), comparando acarajé com doces de Viena.

É ele também que tem na sua secretária eletrônica a seguinte mensagem: "deixe o seu recado, mas alerto que já sei o número que está ligando".

Para ele, uma banana é só uma banana, mas duas bananas já o fazem lembrar de Carmem Miranda.

Fazer análise com ele por 30 anos não é cronificante; para ele, o amigo de Tim Maia, que fumou maconha durante 25 anos, não é um viciado.